Galeria Dalme Marie Grando Rauen Recebe Exposição Entre o Céu e a Terra


ENTRE O CÉU E A TERRA


“quando o gotejar da estalactite lentamente faz crescer a estalagmite, até que ambos se tornam um.”
Amós Oz, A caixa preta.

Se nunca olhássemos para cima, haveria céu?

Porque somos mais que corpo, não poderíamos estar completamente no chão. Mas sendo um pouco corpo, também não nos é conveniente permanecer no céu, como o fazem provisoriamente as nuvens. Temos o peso excessivo de querer habitar.

Mari e Marco propõem ocupações de um lugar impossível. Impossível de ser lugar, impossível de ocupar, possível de [...].

Os trabalhos da exposição Entre o céu e a terra, falam de entre, um espaço de morada que não é o céu nem a terra, mas, na sua qualidade de nem-lugar, é devir.

O horizonte, essa linha reta, inexplicavelmente reta! fracassa ao tentar riscar uma separação entre um e o outro. Não é largo o suficiente para existir como entremeio, para ser habitado. Ainda assim, fingimos pisar no chão e dizemos tocar o céu como quem, por arte, ou para consolo, diz que tudo pode.

O corte da fotografia inicia o céu.

E o termina.

Os elementos de dentro da foto querem continuar, fazem-se escapamentos ao mundo. Outras vezes, é de fora que surgem impetuosamente para irromper os azuis. Céus por vezes muito fortes e pigmentados, outras vezes, cansados, como se em desgaste de tanto terem sido vistos.

A fotografia mal existe e logo pensamos no fotógrafo. Mari e Marco estão muito presentes nessas paisagens, seus olhares, suas caminhadas, seus dias nos são entregues intimamente. Em cada trabalho, o ponto de onde se olha parece ser deslocado como numa visão em paralaxe. Ao contrário de como se suporia por congelamento do instante na foto, o que vemos sempre muda, nós não ficamos num mesmo ponto, porque os artistas também se movem. Nada mais é estático. A única coisa que permanece é a oscilação cima-baixo, constante, cortante, espelhada, em rebatimentos nem sempre regulares, mas que, se cessam, o fazem para nos tirar do lugar.

Através de interrupções abruptas, Mari joga forçadamente os assuntos que mancham o céu para dentro e fora das suas imagens. E por mais que sejam atitudes violentas, o que se vê são cortes delicados. Essa descontinuidade que inspira a continuar a imagem, nos desespera, desestrutura, como se nesse momento soubéssemos pela primeira vez que a Terra gira.

Ela olha para longe, lá onde as coisas já embaçam. Ou são seus olhos? Menos lustros sob a bruma do tempo frio, sob a sujeira dos dias, marejados de sentimento.

A disposição das imagens, por vezes aos pares, sugere comparações/fusões como a entre pássaros e arames farpados, em que logo não se sabe mais distinguir, entre um e outro, o que fere e o que voa.

Só se ouve uma música.

Lenta.

É tanto silêncio, e faz barulho.

Quase é possível ouvir o ranger dos cabos metálicos e correntes, mas eles perdem a força na invisibilidade de um ponto fixo de sustentação. Nada aqui é fixo. Os galhos também se tocam e fazem barulho como se fosse por isso que borram. Os cortes da fotografia interrompem nossos sentidos, travam nossa fala. É um novo tipo de sinestesia.

Nas imagens de Marco, recobramos a calma. Pacientes como alguém que filosofa enquanto trabalha a polir lentes.

A terra para qual ele olha, sustenta espelhos, captura um céu onde poderíamos pisar, abismos dos quais poderíamos beber aos goles, na xícara.

Marco encontra, no chão, indícios do que Mari vê no alto. Mari não olha para o chão tanto quanto Marco não olha para cima. Mas ele vê as coisas que estão lá. Ambos aproximam-se, nos tocam, nos põem entre. E tocar o céu por vezes é fálico, ou é retido, depois é saturado, é miragem, é ilusão, é nada, é não.

As muitas dualidades, que se propõem inicialmente, anulam-se no entre, porque as imagens que surgiram como contrapontos, agora encontram completude, rebatem e entrecruzam-se, como se os artistas, mulher e homem, estivessem cada um a fotografar para falar ao outro.

E tudo são encontros.

Entre é um lugar que não é nenhum dos dois, e ambos.

Entre a terra, muitos céus. Terra antes e depois do céu. Entre.

Entramos.

Céu e terra se tocam.

Texto de Diane Sbardelotto



Serviço


Abertura da Exposição "Entre o céu e a terra", dos fotógrafos Mari Baldissera e Marco Antonio Stello

Local: Galeria Municipal de Arte Dalme Marie Grando Rauen (galeria da Praça)

A exposição fica aberta de 25.07.2017 a 26.09.2017

Horário de visitação:


De terça a sexta das 9h às 12h e das 13h às 16h
Sábados, domingos e feriados das 14h às 17h
Agendamentos de grupos: 49 3321 8509 | artesvisuais@chapeco.sc.gov.br

* Esta exposição foi selecionada através do edital para exposições na Galeria Municipal de Arte Dalme Marie Grando Rauen 2017 e é uma realização da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Chapeco (Oficial)

Fundação Cultural de Chapecó e Prefeitura de Chapecó

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