Elevado: "Aqui também é morada de povos indígenas - Kanhgág jamã vy gé" de Janaína Corá


Aqui também é morada de povos indígenas

Kanhgág jamã vỹ gé

Janaína Corá

Parte constituinte da Mitologia Indígena Kaingang, as metades clânicas: kamé e kairu foram escolhidas para estampar uma das partes do elevado em Chapecó. Para compreender melhor estas metades ou marcas clânicas, a antropóloga Juracilda Veiga (2000), que viveu por muito tempo nestas terras, explica que: Kairu é simbolizado por um círculo na cor vermelha e Kamé é simbolizado por um traço na cor preta, uma linha. Por exemplo o sol é Kamé e a lua é Kairu, as plantas, animais e todos elementos que fazem parte da natureza, são conhecidos pela etnia kaingang por Kamé ou Kairu. O artesanato Kaingang é um exemplo que mostra a que grupo pertence o artesão, é através do grafismo que saberemos se o artesão é Kamé ou Kairu.

A Leste da pintura, onde nasce o sol, estão representadas as linhas da metade kamé, que representa o dia. O círculo, representando a lua, está posicionado no Oeste, onde o sol se põe, à noite, marcando a metade kairu.

Ainda segundo as tradições kaingangs, os casamentos devem ser realizados entre as duas metades opostas, ou seja, um Kaingang da metade Kamé somente poderá se casar com alguém da metade Kairu. Os filhos pertencerão à metade paterna, isto é, se o pai é Kamé, os filhos e filhas também serão da metade Kamé.

Além das marcas, a pintura leva uma escrita bilíngue, na língua kaingang: Kanhgág jamã vỹ gé, e a tradução “Aqui também é morada de povos indígenas”. O texto propõe a conciliação, a ideia de coexistência, ou seja, todos vivendo juntos com senso de igualdade, e respeito às diferenças culturais. Lembrando que, a nossa primeira história da arte – não oficial – é a história dos primeiros habitantes no território brasileiro, geralmente excluída ou vista com menor importância nos livros sobre história e história da arte.

Para refletirmos sobre a força e a potência do que temos, da diversidade, das riquezas naturais e as produzidas por nossos povos, queremos através das metades clânicas, representar o quanto é grandiosa e importante a cultura indígena para o cuidado e preservação da vida. Essa pintura no elevado em Chapecó, pretende promover a valorização da presença indígena para reatar os laços que nos unem a nossa ancestralidade. Esse reconto ajuda nos aproximar desse tempo outro. Nas palavras de Maurício Negro (2019) é importante lembrarmos que naquele tempo, os homens não usavam os animais como meio de transporte, eles andavam pé, observando melhor tudo o que os rodeava. Também não se apressavam de lado para outro, o jeito de viver daquela época ajudava o equilíbrio da vida. Os homens não interferiam no curso da natureza. Não desmatavam, não poluíam, nem faziam guerras com outras gentes por qualquer motivo banal.

Parece que já tínhamos aqui tudo o que precisávamos para viver bem, talvez seja tempo de lembrar o que nos esquecemos e o que nos constitui enquanto povo. Conectar com o silêncio que nos habita para reaprender a escutar, perceber a morada do ser e sentir as forças potentes da natureza e do nosso entorno como os povos indígenas faziam e fazem.

Portanto, a presente proposta artística quer homenagear os povos nativos de Chapecó. Honrar o passado é também valorizar o presente, para compreendermos como queremos seguir e propormos uma convivência humana baseada no respeito e reconhecimento das origens étnicas e culturais.

Referências consultadas:

NEGRO, Maurício. Uma Antologia de Literatura Indígena. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2019.

VEIGA, Juracilda. Cosmologia kaigang e suas práticas rituais. São Paulo: UNICAMP, 2000.

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