Cada espaço, no território da cidade, é campo de alastrar-se, como peste, que nasce e resiste nos lugares mais impróprios.

A partir disso, o desenvolvimento do projeto ocorreu da seguinte forma:

Realizou-se a coleta de algumas espécies de plantas no entorno do elevado, que foram fotografadas individualmente, criando um catálogo de uma vegetação espontânea e resistente do local.

Em seguida, a impressão de um grupo selecionado destas, em papel offset em tamanho ampliado. Então uma das partes mais demoradas e de maior cuidado foi a do recorte, uma a uma as plantas-pestes foram tomando forma. A ação subsequente foi a aplicação no elevado, utilizando-se da linguagem do lambe, com o típico grude (cola de amido/farinha). Aqui a fotografia expandida ocupa o espaço urbano.

Assim, entre conceito de linguagem artística e o nome popular dado a uma erva daninha - quebra-pedra - os inços, aqui nesse contexto, se perpetuam através das fendas para retomar o espaço de tudo aquilo que antes já eram parte, e que hoje procuram rachaduras para sobreviver ao cinza do progresso.

Porque, "ao contrário do verde controlado de parques e jardins, que cresce apenas em bolsos de isolamento, as plantas selvagens da cidade – conhecidas como ruderais, do latim rudus: ruínas e escombros – precisam das fendas: as rachaduras nas calçadas, o palácio abandonado, o tecido da cidade e seus rasgos. ( MASON, Daniel. Cidade de sementes. Revista piseagrama, Belo Horizonte, nº 06, página 06 - 09, 2013).

Da mesma forma que as plantas realizam uma busca incansável de retomar espaços através das fendas, as histórias e saberes dos nossos povos, precisam tornar-se ervas-daninhas e retomar espaços através das rachaduras nos novos espaços concretados do desenvolvimento urbano, criando caminhos para perpetuar a própria história.

Audrian Cassanelli - Artista Visual e Professor de Artes